A una sonda espacial al final de sus dí­as / Daniel Jonas

Cansada de misiones, rindes la vida

Y humana casi alaban tus días,
Y hablan de tu beso de adiós
Pues esta vez, por último, verás Titán
Ya antes que cedas a la gravedad
Del enorme gas del fin y así te extingas.
Y gran pena va en el pecho inconstante
De las personas que sensibles se despiden
De tu ardiente vida de mirón,
De tu recogimiento casi cósmico.
El monje dejará su órbita
Y entregará lata y polvo
En su martirio frío y silente
De fotoperiodista en el teatro
De guerra abatido por mortero,
Caída sobre el polvo, la roca, el gas.
Fue larga tu vida de silencios,
De fascinaciones siderales y estelares
Y grandes cosas viste, si anónima,
En tu recogimiento clerical
En el ombligo de la oscuridad, de lo difuso,
A lo lejos de lo más lejano; y tan confusa
Llegada al fin de las interminables vueltas
Recoges en tu álbum los últimos
Fogonazos de alegría y giras
Una vez más entre profundas sombras
Mientras te retiras como actriz
De la última escena entre aplausos
Y las candilejas molestan
Tus ojos frágiles, ríos inseguros.
Dirás adiós a los astros, a los planetas.
Dirás fue bueno verlos y amarlos,
Probándolos eternos (tú efímera),
Y, sobrepasando vueltas cual perro
Que casi en un tropiezo tira
Aquél cuyas pantorrillas sacude
Y aplaude con la cauda juvenil,
Te verás, tan repentina, acabada
Por el tiempo de Plutón magnánimo 
En días y ya rica empobreces
(Pues quien más rico hace el tiempo, muere,
Y pobre de sus días es el rico).
¡Adiós, pues, artefacto sideral !
Eres casi alguien que se va y lloramos,
Porción de nuestras vidas que se pierde,
Globo primero, pérdida inaugural.
Ahora la pira fúnebre te espera.

Versión del portugués de Sergio Ernesto Ríos

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A uma sonda espacial no fim dos seus dias
Cansada de missões, rendes a vida / E humana quase louvam os teus dias / E falam do teu beijo de adeus / Pois desta vez verás Titã por último / Já antes de cederes à gravidade / Do grande gás do fim e assim findares. / E grande pena vai no peito vário / Das gentes que sensíveis se despedem / Da tua ardente vida de mirone, / Do teu recolhimento quase cósmico. / O monge deixará a sua órbita / E entregará a lata a poeira / No seu martírio frio e silente / De fotojornalista no teatro / De guerra abatida por morteiro, / Caída sobre o pó, a rocha, o gás. / Foi longa a tua vida de silêncios, / De assombrações sidéreas e estelares / E grandes coisas viste, se anónima, / No teu recolhimento clerical / No umbigo do escuro, do difuso, / Ao longe do mais longe; e tão confusa / Chegada ao fim das infindáveis voltas / Recolhes no teu álbum os teus últimos / Fogachos de alegria e rodopias / Uma vez mais por entre as sombras fundas / Enquanto te retiras como actriz / Da cena derradeira entre aplausos / E as luzes da ribalta te encandeiam / Os frágeis olhos, rios inseguros. / Adeus dirás aos astros, aos planetas. / Dirás foi bom de ver-vos e amar-vos, / Provando-vos eternos (tu escassa), / E, exorbitando voltas qual cachorro / Que quase num tropeço faz cair / Aquele cujos gémeos esgaravata / E aplaude com a cauda juvenil, / Ver-te-ás, tão repentina, vindimada / P’lo tempo de Plutão munificente / Em dias e já rica empobreces / (Pois quem mais rico faz o tempo, morre, / E pobre dos seus dias é o rico). / Adeus, pois, maquineta sideral! / És quase alguém que parte e nós choramos , / Porção das nossas vidas que se perde, / Balão primeiro, perda inaugural. / Agora a pira fúnebre te espera.

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