Luí­s Filipe Sarmiento

      1.
      De la metafórica madre a la obra magna: piensa la materia obscura
      y, revelándose, la ignición le es noticia y refleja. Éste es el principio:
      intuí. No hay redondez en el caos y si hay es un azar de la fricción:
      imperfectas esferas a la deriva en la alegoría de la sangre primitiva.
      La realidad del fenómeno, la transparencia en sí, la primera letra,
      la sensación histórica de la vena, el plasma a la mirada abismada
      del primer observador, anónimo, de misterios. Mutila la geografía
      del pensamiento, el pretexto, y valora la sustancia, cuestionándose.
      La expresión de los desiertos opacos como exclamación de la duda
      entre puntos que brillan más que desconocen.
      Se eleva y se esquiva al conflicto de los duendes que se antagonizan;
      las formas que pre-existen le darán seguramente recursos.
      Piensa: hay un método que es y no es; el mecanismo imperfecto
      del conocimiento y la mecánica de la contradicción. Se interroga.
      El que existe en sí es una representación y de sí la experiencia.
      Inscribió creencias, dudó de su estructura, analizó fenómenos.
      Verifica que los sistemas interactúen, destruyéndose;
      observa, descarta lo que está sin fundamentos, y busca un menú
      que sea la colección pura de la obra que nos constituye el  pensamiento.
      Lo que se sigue es la arquitectura de las ideas.
      El registro de lo obsoleto.

2.
      No resuelve el paisaje con la mirada: es demasiada matemática
      colorida. Cuestiona la naturaleza, se sienta y observa la ciencia.
      Le conoce las ecuaciones, los proyectos, algunas ideas.
      Desconoce las respuestas y espera, mirándola.
      Se siente un espía contra dios a simple vista, espía la organización
      natural, forzándola a la exhibición de las soluciones.
      Las primeras gotas de néctar le bajan del cerebro a la garganta
      y asocia a cada respuesta un elíxir. La observación de la ciencia
      le dibuja en el paladar un poliedro de sabores.
      La exuberancia de la geometría del gusto va brillando tímidamente
      como una constelación lejana en su universo cerebral.
      Las nubes lo incitan y reconoce en sus formas efímeras
      a Arquímedes que, en la disipación de las gotas, le sonríe.

 

3.
      La idea es una experiencia de placer, no un dogma divino,
      un giro en la tristeza, en el agotamiento: el colapso de la renuncia.
      Su estructura está edificada a partir de la razón de sí, se explicita
      en la exuberancia del objeto que estimula los sentidos.
      El deleite de quien observa es la voluptuosidad de quien crea,
      la impresión del observador acoge al objeto que se transmuta.
      Produce fenómenos, múltiples sensaciones, lecturas y perspectivas
      de lo que en sí se dio a la elaboración del exterior.
      Entendimiento y sensibilidad confraternizan
      en el deleite de la observación que a la observación del creador
      le produce una nueva experiencia, estimulándolo
      en la creación de experiencias de goces.
      El espacio geométrico se espiritualiza con la aritmética del tiempo,
      se mitifica y lo que encierra se oculta en la metáfora.
      Lo que se deduce puede no ser lo que en el origen es.

 

4.
      Se entiende como anticipación de una experiencia en sí:
      resguarda el paso, efectúa el gesto, la sensibilidad, lo exponen
      al pensamiento, alimenta el ensayo posible. La sonrisa desgarra
      la oscuridad, ilumina la ciencia que expande el deseo previsto.
      En su intimidad se reserva la razón pura: el entendimiento
      que lo hace suceder, abriendo entrañas hasta el núcleo
      donde fragmentos se disipan en la unidad.
      Cofre de ideas posibles, la combustión de su motor
      pone en marcha el trazo en el espacio y en el tiempo, proyectándolo.
      La idea de sí y del mundo es la creencia que lo transfigura
      en cada paso, se trasciende cuando entiende el cosmos en sí.

Versiones del portugués de Sergio Ernesto Ríos
      __________
      1.
      Da metafórica mãe à obra magna: pensa a matéria obscura / e, revelando-se, a ignição é-lhe notícia e reflecte. Este é o princípio: / intui. Não há redondez no caos e se há é um acaso da fricção: / imperfeitas esferas à deriva na alegoria do sangue primevo. / A realidade do fenómeno, a transparência em si, a primeira letra, / a sensação histórica da veia, o plasma ao olhar abismado / do primeiro observador, anónimo, de mistérios. Mutila a geografia / do pensamento, o pretexto, e avalia a substância, questionando-se. / A expressão dos desertos opacos como exclamação da dúvida / entre pontos que brilham mas que se desconhecem. / Eleva-se e esquiva-se ao conflito dos duendes que se antagonizam; / as formas que preexistem dar-lhe-ão seguramente recursos. / Pensa: há um método que é e não é; o mecanismo imperfeito / do conhecimento e a mecânica da contradição. Interroga-se. / O que há em si é uma representação e de si a experiência. / Inscreveu crenças, duvidou da sua estrutura, analisou fenómenos. / Verifica que os sistemas interagem, destruindo-se; / observa, descarta o que é infundamentado, e busca um cardápio / que seja a colecção pura da obra que nos constitui o pensamento. / O que se segue é a arquitectura das ideias. / O registo do obsoleto.

2.
      Não resolve a paisagem com o olhar: é muita matemática / colorida. Questiona a natureza, senta-se e observa a ciência. / Conhece-lhe as equações, os projectos, algumas ideias. / Desconhece as respostas e espera, olhando-a. / Sente-se um espião contra deus a olho nu, espia a organização / natural, forçando-a à exibição das soluções. / As primeiras gotas de néctar descem-lhe do cérebro à garganta / e associa a cada resposta um elixir. A observação da ciência / desenha-lhe no palato um poliedro de sabores. / A exuberância da geometria do gosto vai brilhando timidamente / como um constelação longínqua no seu universo cerebral. / As nuvens instigam-no e reconhece nas suas formas efémeras / Arquimedes que, na dissipação das gotas, lhe sorri.  

3.
      A ideia é uma experiência de prazer, não um dogma divino, / uma viragem na tristeza, na exaustão: o colapso da desistência. / A sua estrutura é edificada a partir da razão de si, explicita-se / na exuberância do objecto que estimula os sentidos. / O deleite de quem observa é a volúpia de quem cria, / a impressão do observador acolhe o objecto que se transmuda. / Produz fenómenos, múltiplas sensações, leituras e perspectivas / do que em si se deu à elaboração do exterior. / Entendimento e sensibilidade confraternizam / no deleite da observação que à observação do criador / lhe produz uma nova experiência, estimulando-o / na criação de experiências de prazeres. / O espaço geométrico espiritualiza-se com a aritmética do tempo, / mitifica-se e o que encerra oculta-se na metáfora. / O que transparece pode não ser o que na origem é. 

4.
      Entende-se como antecipação de uma experiência em si: / resguarda o passo, efectua o gesto, a sensibilidade expõem-no / ao pensamento, alimenta o ensaio possível. O sorriso dilacera / a obscuridade, ilumina a ciência que expande o desejo previsto. / Na sua intimidade reserva-se a razão pura: o entendimento / que o faz acontecer, desbravando entranhas até ao núcleo / onde fragmentos se dissipam na unidade. / Cofre de ideias possíveis, a combustão do seu motor / põe em marcha o traço no espaço e no tempo, projectando-o. / A ideia de si e do mundo é a crença que o transfigura / em cada passo, transcende-se quando entende o cosmos em si.

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