¡Quítennos todo ,
pero déjennos la música!
¡Quítennos la tierra en que nacimos,
donde crecimos
y donde descubrimos por primera vez
que el mundo es así:
un tablero de ajedrez…
Quítennos la luz del sol que nos calienta,
su lírica de xingombela
en las noches mulatas
de la selva mozambicana
(esa luna que nos sembró en el corazón
la poesía que encontramos en la vida),
quítennos la choza — la humilde barraca
donde vivimos y amamos,
quítennos la machamba que nos da el pan,
quítennos el calor del fuego
(que nos es casi todo)
¡pero no nos quiten la música!
Pueden desterrarnos,
llevarnos a tierras lejanas,
Vendernos como mercancía, encadenarnos
a la tierra, de sol a luna y de luna a sol,
¡pero siempre seremos libres
si nos dejaran la música!
¡Allí donde estuviera nuestra canción
aun esclavos, señores seremos;
y aun muertos, viviremos,
y en nuestro lamento esclavo
estará la tierra donde nacimos,
la luz de nuestro sol,
la luna de los xingombelas,
el calor de fuego,
la choza que vivimos,
la machamba que nos da el pan!
Y todo de nuevo será nuestro,
aun con cadenas en los pies
y aun azotes en la espalda…
¡Y nuestra queja
será una liberación
derramada en nuestro canto!
—Por eso pedimos,
de rodillas pedimos:
¡Quítennos todo …
pero no nos quiten la vida,
no se lleven nuestra música!
Versión del portugués de Renato Sandoval Bacigalupo
Súplica
Tirem-nos tudo, / mas deixem-nos a música! / Tirem-nos a terra em que nascemos / onde crescemos / e onde descobrimos pela primeira vez / que o mundo é assim: / um tabuleiro de xadrez… / Tirem-nos a luz do sol que nos aquece, / a lua lírica do xingombela / nas noites mulatas / da selva moçambicana / (essa lua que nos semeou no coração / a poesia que encontramos na vida), / tirem-nos a palhota — a humilde cubata / onde vivemos e amamos, / tirem-nos a machamba que nos dá o pão, / tirem-nos o calor do lume / (que nos é quase tudo) / — mas não nos tirem a música! / Podem desterrar-nos, / levar-nos / para longe terras, // vender-nos como mercadoria, acorrentar-nos / à terra, do sol à lua e da lua ao sol , / mas seremos sempre livres / se nos deixarem a música! / Que onde estiver nossa canção / mesmo escravos, senhores seremos; / e mesmo mortos, viveremos, / e no nosso lamento escravo / estará a terra onde nascemos, / a luz do nosso sol, / a lua dos xingombelas, / o calor do lume / a palhota que vivemos, / a machamba que nos dá o pão! / E tudo será novamente nosso, / ainda que cadeias nos pés / e azorrague no dorso… / E o nosso queixume / será uma libertação / derramada em nosso canto! / — Por isso pedimos, / de joelhos pedimos: // Tirem-nos tudo… / mas não nos tirem a vida, / não nos levem a música!