Del poema El problema no es meter el mundo en el poema; alimentarlo de luz, planetas, vegetación. Ni tampoco enriquecerlo, ornamentarlo con palabras delicadas, abiertas al amor y a la muerte, al sol, al vicio a los cuerpos desnudos de los amantes— el problema es tornarlo habitable, indispensable a quien sea más pobre, a quien esté más solo que las palabras acompañadas en el poema. La paz Si yo te pidiese la paz, ¿qué me darías, pequeño insecto de la memoria de quien soy nido y alimento? Si yo te pidiese la paz, la piedra del silencio cubriéndome de polvo, la voz limpia de los frutos, ¿qué me darías, respiración pausada de otro cuerpo bajo mi cuerpo? Perdóname estar tan solo, y hablarte aún de mi exilio. Perdóname si no te pido la paz. Apenas pregunto: ¿qué me darías a cambio si te lo pidiese? ¿El sol? ¿La sabiduría? ¿Un caballo de ojos verdes?¿Un campo de batalla para grabar en él tu nombre junto al mío? ¿O apenas un cuchillo de fuego, intranquilo, en el centro de mi corazón? Nada te pido, nada. Visito, simplemente, tu cuerpo de ceniza. Hablo de mí, te entrego mi destino. Y la muerte vivo sólo de preguntarte: ¿qué me darías si te pidiese la paz y supieses de cómo la quiero construida con las materias vivas de la libertad? Versiones del portugués de Sergio Ernesto Ríos __________ Do Poema O problema não é / meter o mundo no poema; alimentá-lo / de luz, planetas, vegetação. Nem / tão-pouco / enriquecê-lo, ornamenta-lo / com palavras delicadas, abertas / ao amor e à morte, ao sol, ao vício, / aos corpos nus dos amantes— // o problema é torna-lo habitável, indispensável / a quem seja mais pobre, a quem esteja / mais só / do que as palavras / acompanhadas / no poema. A paz Se eu te pedisse a paz, o que me darias / pequeno insecto da memória de quem sou / ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz, / a pedra do silêncio cobrindo-me de pó, / a voz limpa dos frutos, o que me darias / respiração pausada de outro corpo / sob o meu corpo? / Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda / do meu exílio. Perdoa-me se não te peço / a paz. Apenas pergunto: o que me darias / em troca se ta pedisse? O sol? A sabedoria? / Um cavalo de olhos verdes? Um campo de batalha / para nele gravar o teu nome junto ao meu? / Ou apenas uma faca de fogo, intranquila, / no centro do coração? / Nada te peço, nada. Visito, simplesmente, / o teu corpo de cinza. Falo de mim, / entrego-te o meu destino. E a morte vivo / só de perguntar-te: o que me darias / se te pedisse a paz / e soubesses de como a quero construída / com as matérias vivas da liberdade?
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