Considera la nube dentro de la casa.
Si es la cortina de tus ojos empañados
recorriendo el corredor, si el humo del cigarrillo
ribeteando crisis de asma, sabrás
al inclinarte el cuerpo sobre la luz.
Considera tu nube personal.
Se debe acopiar ficheros: fotografías temblando
de miedo de que un día alguien las olvide,
papeles, cartas ridículas que deberás digitalizar
más allá de la nube
más allá del corredor
más allá de la luz
más allá de la casa.
Considera ahora el viento dentro de la casa.
Si autoriza que te quedes.
Si te arrastra.
Si te expulsa.
Y desconfía: de la meteorología, de las pre-
dicciones, de las sombras. Si lloviera, por favor,
no te abrigues. Al menos te obligues
a este tejado vano.
Todas las casas de amor son ridículas
Prefiero el ridículo de escribir poemas
al ridículo de no escribirlos.
Wislawa Szymborska
Te escribo: una casa. Y ninguna palabra
se reviste de ladrillos, ninguna palabra
se deposita sobre el terreno para la construcción.
Una casa debe tener placas, mi amor.
una casa debe ser de material seguro,
no va a haber incendios y dejar de haber
casa.
Una casa debe. Es todo lo que sé:
añadir verbo a esta casa que te escribo
ese que entre todos es el material más perecible.
Respondí así al contratista,
cuando me alertó de los peligros.
Sobre todo el peligro de ser
ridícula:
No vas a construir una casa escribiendo.
Tomé nota. Escribí: una casa.
Le dije: sala, escritorio, tres cuartos.
será bueno para el niño tener hermanos,
si no tuviera los míos que me reconstruiría
ahora que partiste y yo escribo: una casa.
Todas las casas de amor son ridículas,
continuó el contratista lleno de ternura por mí
y más afecto al dinero,
regla general, tienen malos acabados.
Tomé nota. Escribí: una casa.
Abrí la puerta. Lo mandé salir.
Prefiero el ridículo de imaginar una casa
al ridículo de no imaginarla.
Te escribo: una casa.
Y en ese instante se ha empezado
el fuego.
Versiones del portugués de Renato Sandoval Bacigalupo
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Considera a nuvem
Considera a nuvem dentro da casa. / Se é a cortina dos teus olhos embaciados / percorrendo o corredor, se o fumo do cigarro / debruando crises de asma, saberás / ao inclinares o corpo sobre a luz. // Considera a tua nuvem pessoal. / É preciso armazenar ficheiros: fotografias tremidas / de medo de que um dia alguém as esqueça, / papéis, cartas ridículas que terás de digitalizar / para lá da nuvem / para lá do corredor / para lá da luz / para lá da casa. // Considera agora o vento dentro da casa. / Se autoriza que fiques. / Se te arrasta. / Se te expulsa. / E desconfia: da meteorologia, das pre- / visões, das sombras. Se chover, por favor, / não te abrigues. Sequer te obrigues / a este telhado vão.
Todas as casas de amor são ridículas
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
Wislawa Szymborska
Escrevo-te: uma casa. E nenhuma palabra / se reveste de tijolos, nenhuma palavra / se deposita sobre o terreno para a construção. / Uma casa deve ter placa, meu amor, / uma casa deve ser de material seguro, / não vá haver incêndios e deixar de haver // casa. // Uma casa deve. É tudo o que sei: / acrescentar verbo a esta casa que te escrevo / naquele que é de todos o mais perecível material. / Respondi assim ao empreiteiro, / quando me alertou para os perigos. / Sobretudo o perigo de ser // ridícula: // Não vai construir uma casa a escrever. // Tomei nota. Escrevi: uma casa. / Disse-lhe: sala, escritório, três quartos, / será bom para a criança ter irmãos, / se não tivesse os meus quem me reconstruiria / agora que partiste e eu escrevo: uma casa. // Todas as casas de amor são ridículas, / continuou o empreiteiro cheio de ternura por mim / e mais afecto pelo dinheiro, / regra geral, têm maus acabamentos. // Tomei nota. Escrevi: uma casa. / Abri a porta. Mandei-o sair. / Prefiro o ridículo de imaginar uma casa / ao ridículo de não a imaginar. // Escrevo-te: uma casa. / E nesse instante é começado / o fogo.