Así­ escucho a Mário Cesariny: Mi corazón exacto/ Ana Paula Inácio

¿Tendrá mi corazón exacto el tamaño de mi mano cerrada?
La forma de un puño que golpea contra la mesa, exigiendo
¿lo que me es debido?
Y lo que me es debido, gerente, es que esta leche no esté agria, lo                                                                                                                                                    [digo
muy alto y al pie de mucha gente.
Y salgo sin erguir el cuello. Me gusta el frío del viento,
¿Sin saber dónde? el corazón.
Sin saber lo que importa,
Sin siquiera tener todos los dientes
(ellos también sirvieron de mesa a lo que, tal vez, no me fuera                                                                                                                                                                [debido)
muy blancos.
Pero lo sentía muy cerca,
al corazón,
a veces, peligrosamente, al borde de la boca
donde estalla, a veces,
indebidamente.

Para finalizar el tema sólo puedo decir que no soy ninguna madame                                                                                                                                                   [blanche
y cuando caigo, caigo verticalmente. En el vicio.

 

Verano interior

i) en la casa de enfrente
el sábado sigue siendo el de la limpieza
en la cuerda las sábanas
cubren las piernas rojas
de las sobrinas, de las nietas
que crecen en la mirada golosa de los toreros
el yerno francés vota LePen
agarrado a su empleo
de clase media
vacaciones en Cancún y Cabo Verde
lamenta las preocupaciones del estado social,
el portugués lee O Crime
el tío sacerdote el Expresso
modo de trazar fronteras
el riesgo al lado, como lo usa,
ocupa la porción más pequeña
pero ya no es un sistema de
esparcir el mundo
es sólo un truco de peluquería

ii) la prima hace la francia
(donde los padres suavizan la añoranza
en copas de aguardiente)
faire du ménage dans un magasin
el marido construye dês bâtiments
para el cerdito francés más inteligente
la hija se hace bilingüe
y ciudadana de doble nacionalidad
es el circuito que se cierra en la vuelta
más encarnizada de la ladera,
donde las mujeres
traen gatos salvajes en la voz

Versiones del portugués de Rocío Cerón

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Assim ouvido a Mário Cesariny: O meu coração exacto
Terá o meu coração exacto o tamanho da minha mão fechada? / A forma de um punho que bato contra a mesa, exigindo / o que me é devido? / E o que me é devido, gerente, é que este leite não esteja azedo, digo-o / muito alto e ao pé de muita gente. / E saio sem pôr a gola ao alto. Gosto de sentir o frio o vento, / Sem saber onde? o coração. / Sem saber o que importa, / Sem sequer ter os dentes todos / (também eles serviram de mesa ao que, talvez, não me fosse devido) / ou muito brancos. / Mas sentiram-no muito próximo, / ao coração, / às vezes, perigosamente, à beira da boca / onde explodiu, às vezes, / indevidamente. // Afinal acerca da temática só posso dizer que não sou nenhuma madame blanche / e quando caio, caio verticalmente. No vício.

Verão interior
i) na casa em frente / o sábado continua a ser o das limpezas / na corda os lençóis / cobrem as pernas roliças / das sobrinhas, das netas / que crescem no olhar guloso dos toureiros / o genro francês vota LePen / agarrado ao seu emprego / classe média / férias em Cancun e Cabo Verde / lamenta as preocupações do estado social, / o português lê O Crime / o tio padre o Expresso / modo de traçar fronteiras / risco ao lado, como o usa, / ocupa a porção mais pequena / mas já não é um sistema de / espartilhar o mundo / apenas um truque de cabeleireiro // ii) a prima torna a frança / (onde os pais mitigam a saudade / em copas de aguardente) / faire du ménage dans un magasin / o marido constrói dês bâtiments / para o porquinho mais atilado francês / a filha faz-se bilingue / e cidadã de dupla nacionalidade / é o circuito que se fecha na volta / mais encarniçada da ladeira, / onde as mulheres / trazem gatos selvagens na voz

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