Poemas / Casimiro de Brito

Del poema

El problema no es
meter el mundo en el poema; alimentarlo
de luz, planetas, vegetación. Ni
tampoco
enriquecerlo, ornamentarlo
con palabras delicadas, abiertas
al amor y a la muerte, al sol, al vicio
a los cuerpos desnudos de los amantes—

el problema es tornarlo habitable, indispensable
a quien sea más pobre, a quien esté
más solo
que las palabras
acompañadas
en el poema.

 

La paz

Si yo te pidiese la paz, ¿qué me darías,
pequeño insecto de la memoria de quien soy
nido y alimento? Si yo te pidiese la paz,
la piedra del silencio cubriéndome de polvo,
la voz limpia de los frutos, ¿qué me darías,
respiración pausada de otro cuerpo
bajo mi cuerpo?
Perdóname estar tan solo, y hablarte aún
de mi exilio. Perdóname si no te pido
la paz. Apenas pregunto: ¿qué me darías
a cambio si te lo pidiese? ¿El sol? ¿La sabiduría?
¿Un caballo de ojos verdes?¿Un campo de batalla
para grabar en él tu nombre junto al mío?
¿O apenas un cuchillo de fuego, intranquilo,
en el centro de mi corazón?

Nada te pido, nada. Visito, simplemente,
tu cuerpo de ceniza. Hablo de mí,
te entrego mi destino. Y la muerte vivo
sólo de preguntarte: ¿qué me darías
si te pidiese la paz
y supieses de cómo la quiero construida
con las materias vivas de la libertad?

Versiones del portugués de Sergio Ernesto Ríos

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Do Poema
O problema não é / meter o mundo no poema; alimentá-lo / de luz, planetas, vegetação. Nem / tão-pouco / enriquecê-lo, ornamenta-lo / com palavras delicadas, abertas / ao amor e à morte, ao sol, ao vício, / aos corpos nus dos amantes— // o problema é torna-lo habitável, indispensável / a quem seja mais pobre, a quem esteja / mais só / do que as palavras / acompanhadas / no poema.

A paz
Se eu te pedisse a paz, o que me darias / pequeno insecto da memória de quem sou / ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz, / a pedra do silêncio cobrindo-me de pó, / a voz limpa dos frutos, o que me darias / respiração pausada de outro corpo / sob o meu corpo? / Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda / do meu exílio. Perdoa-me se não te peço / a paz. Apenas pergunto: o que me darias / em troca se ta pedisse? O sol? A sabedoria? / Um cavalo de olhos verdes? Um campo de batalha / para nele gravar o teu nome junto ao meu? / Ou apenas uma faca de fogo, intranquila, / no centro do coração? / Nada te peço, nada. Visito, simplesmente, / o teu corpo de cinza. Falo de mim, / entrego-te o meu destino. E a morte vivo / só de perguntar-te: o que me darias / se te pedisse a paz / e soubesses de como a quero construída / com as matérias vivas da liberdade?

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