Poemas / José Alberto Oliveira

Contra la impiedad de las generaciones más jóvenes

¿Quién les pidió que, debajo
      de libros y cuadernos, entre
      el polvo que encamó al fondo del saco,
      estuviera la caridad, o incluso
      esa mezcla instantánea
      de ternura y egoísmo
      que, servida fría, habrá de
      parecer la adolescencia?
      En esta mañana de mayo, a las ocho
      y treinta, el estruendo de las cigarras
      está en ebullición perfecta.
      Cantan todo el verano y mueren
      poco previsores, según
      el fabulista. Un camión
      azul, que pasó por la calle,
      intimidó a las más cercanas,
      una paloma se juzga solista.
      ¿Quién tiene la culpa de que las observaciones
      espurias no puedan ser un himno?
      ¿Del camión azul ? ¿De lo que usted espera ?

 

Mandarinas

Para cuidar de los vicios,
      como de árboles frutales,
      puede consultarse un noticiero,
      con desenfado,
      o para que las nieves del Ártico
      no se derritan
      sin que llegue la información,
      o para escapar pronto
      a la tentación del absurdo,
      que es aún, con el azar,
      la mejor explicación de las pérdidas
      en la ruleta, imagino mandarinas
      en un huerto del Sur de Europa –
      el aroma a sol y mar
      y muchas moscas.
      Catecismo

Yo era pequeñito
      (se usaba mucho sufijo
      en esa época)
      y fui a ver
      a la Legión abrir trincheras,
      porque ya venía
      la Rusia Soviética;
      los níscalos tenían otro sabor
      y los nísperos.
      Había gallinas
      en los patios,
      había conejos
      y coles
      en los patios de los Hospitales;
      había pobres,
      muchos suplicando
      sufijo. Me habían
      dado una lapicera
      con colores y una pluma
      que salpicaba tinta,
      para practicar
      la letra redonda; me robaron
      los colores,
      pero no me quejé:
      fue sólo cuando descubrí
      que la ineptitud en el dibujo
      era apenas el fruto
      del vientre de toda
      la ineptitud.

 

Versiones del portugués de Sergio Ernesto Ríos

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      Contra a impiedade dasções  mais novas
      Quem vos pediu que, debaixo / de livros e cadernos, entre / o pó que acamou no fundo do saco, / estivesse a caridade, ou mesmo // essa mistura instantaÌ‚nea / de ternura e egoísmo / que, servida fria, haverá de / parecer a adolesceÌ‚ncia? // Nesta manhã de Maio, aÌ€s oito / e trinta, o estrugido das cigarras / está em ebulição perfeita. / Cantam todo o Verão e morrem // imprevidentes, segundo / o fabulista. Um camião azul, / que passou na rua, / intimidou as mais próximas, // um pombo julga-se solista. / De quem a culpa de que observações / espúrias não possam ser um hino? / Do camião azul? Do que vos espera?
      Tangerinas
      A cuidar de vícios, / como de árvores de fruto, / pode aceder-se a um noticiário, / por desfastio, / ou para que as neves do Ártico / não derretam / sem que chegue a informação, / ou para escapar brevemente / aÌ€ tentação do absurdo, / que é ainda, com o azar, / a melhor explicação das perdas / na roleta, imagino tangerinas / num pomar do Sul da Europa — / o cheiro a sol e mar / e muitas moscas.

Catequese
      Eu era pequenino / (usava-se muito sufixo / nesse tempo) // e fui ver / a Legião abrir trincheiras, / porque vinha aí // a Rússia Soviética; / os míscaros tinham outro gosto / e as neÌ‚speras. // Havia galinhas / nos quintais, / havia coelhos // e couves tronchas / nos pátios dos Hospitais; / havia pobres, // muitos a pedirem / sufixo. Tinham-me / dado uma caixa // de lápis de cor / e uma caneta que espirrava / tinta, // para eu treinar / a letra redonda; oubaram- / -me os lápis de cor, // mas não me queixei: / foi só quando descobri / que a inépcia no desenho // era apenas o fruto / do ventre de todas / as inépcias.

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